Terminei de ler "A Revolução Portuguesa", de Claudio de Farias Augusto, e quero tecer algumas impressões sobre o livro.
Para início de conversa, eu sou muito fã dessa Coleção "Revoluções do Século 20", da Editora Unesp. Conheci essa coleção numa feira do livro na USP e comprei dois livros naquela oportunidade (A Revolução Iraniana e A Revolução Alemã - 1918-1923) por curiosidade e por serem baratos (atualmente, cada livro está no valor de R$ 25,00) e acabei gostando muito dos dois, porque eles tratam de cada tema com uma certa leveza nas palavras e de forma bem detalhada, o que acaba fazendo a gente mergulhar em cada história.
Como estou estudando Canotilho, devido ao grupo de estudos que faço parte, me lembrei dessa coleção e resolvi comprar o livro que trata da Revolução Portuguesa (ou Revolução dos Cravos), muito por curiosidade mesmo, pois sei que Canotilho teve um papel importante na defesa da Constituição dirigente portuguesa que resultou dessa revolução.
Pois bem. Infelizmente, aqui, não irei relatar detalhadamente a revolução como descrita no livro e nem fichar o mesmo, até porque li o livro bem rapidinho (em 04 dias), e, portanto, não teria condição de fazer isso nesse momento. Mas quero me deter aqui sobre as minhas impressões.
O livro é pequeno (180 folhas) e dá para ser lido de forma rápida, em uma semana, porque a linguagem é bem tranquila, sem rebuscamento e complicações. Claro que se você for ler o livro com o intuito de estudá-lo, pode ser que demore mais, mas, em termos gerais, não é um livro difícil.
O Claudio de Farias, autor do livro, se dedicou imensamente a esse trabalho, o que dá para perceber só pela riqueza de detalhes e documentos que ele apresenta no decorrer do livro. Ele buscou tanto em atas de reuniões dos militares, como depoimentos pessoais de pessoas que vivenciaram e foram protagonistas do movimento revolucionário e em outros autores respaldar sua obra e enriquecê-la com detalhes, tornando o livro um rico acervo histórico da época.
Ocorre que achei algumas partes confusas e tive que ler duas, três vezes para poder entender. Talvez isso nem seja por culpa do autor, mas sim da própria complexidade que foi a Revolução dos Cravos.
O livro começa com um relato da ditadura de Antonio de Oliveira Salazar (1889-1970) , afirmando que este "começara a construir em Portugal, a partir do final dos anos 1920, uma das mais duradouras ditaduras de que se tem notícia no mundo ocidental, mantendo-se no governo por quatro ininterruptas décadas" (p. 21). Nessa parte, o autor foca muito no domínio que Portugal possuía sobre suas colônias na África (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe) e como tal domínio desgastou a imagem do país no cenário internacional e internamente, principalmente entres os militares.
Devido a problemas de saúde, em 1968 Salazar deixa o poder e, em seu lugar, assume o seu fiel escudeiro, Marcello Caetano. O governo de Caetano é relatado no livro, bem como o aprofundamento da crise nessa época, gerada pela insatisfação dos militares com as reformas do Governo (Decreto-lei nº. 353/1973) e pela situação das colônias portuguesas na África, o que culmina na tomada do poder pelos militares no dia 25 de abril de 1974.
A Revolução de abril de 1974 (ou Revolução dos Cravos) foi muito peculiar dentre todas as revoluções ocidentais, bem como dentre todos os movimentos comandados por militares. A começar pelo teor democrático e pela participação ativa de partidos políticos, bem como pela abertura da Assembleia Nacional Constituinte, que visavam dar a Portugal novos ares de democracia. "O compromisso assumido pelos militares do MFA com relação à participação de partidos no processo político-institucional contrasta com o comportamento usual de militares responsáveis por golpes de Estado" (p. 160).
O livro relata com detalhes todos os seis Governos Provisórios, as crises ocasionadas por divergências sobre os rumos da revolução e do país dentro das Forças Armandas e pelos partidos políticos, as reuniões do Conselho Revolucionário (CR), a falta de estratégia dentro do Movimento das Forças Armadas (MFA), a crise de 25 de novembro de 1975 e o modo como foi tratada a independência das colônias. Infelizmente, não há um relato detalhado de como funcionou a constituinte, nem de suas principais discussões/embates, mas tão somente sobre a disposição de forças partidárias na Assembleia Constituinte. Também não há detalhes sobre a Constituição de Portugal de 1976, o que é justo, uma vez que não é o foco principal do livro.
ISBN: 978-85-393-0185-0 Editora: Unesp Páginas: 182 Nota: 4/5
O que achei ruim é que o livro é carregado de siglas, então, por mais que a gente se acostume com algumas siglas, uma hora ou outra tenho que ir na lista de siglas no início do livro para saber do que se trata.
No mais, para quem está em busca de conhecimentos sobre a Revolução Portuguesa de 1974, esse é um excelente livro.
Boa leitura! =)
Thalita, vale depois procurar pela tese de doutorado do autor, "Portugal - 1974-1976: entre o passado e o futuro", que ele defendeu na UFF em 2003 sob orientação da Celia Nunes Galvão Quirino dos Santos. Na tese, acho que aquilo de que sentiu falta nesse livrinho ("um relato detalhado de como funcionou a constituinte" e "detalhes sobre a Constituição de Portugal de 1976"). Existe uma ligação muito forte do autor com a própria Revolução Portuguesa, uma vez que ele estava justamente em Portugal quando a mesma ocorreu. Se interessar, veja essa resenha sobre o livro http://estudoshumeanos.com/2012/10/22/a-revolucao-portuguesa-numero-76-102012-274-276/ Abs!
ResponderExcluirMuito obrigada pela indicação, Carlos! Vou ler sim! =)
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