25/01/2015

"Amor Nos Tempos do Cólera", de Gabriel Garcia Márquez

Já li muito sobre o amor. Aliás, a literatura está recheada de livros que contam as mais diversas histórias de amor, porque esse sempre foi um tema que atraiu muito as pessoas, principalmente nós mulheres. A mim, os romances sempre me interessaram. Por outro lado, não me interessam muitos as pieguices românticas tão comuns nos livros que tem como alcance principalmente o público jovem. O amor não é piegas e não precisa ser para ser amor.

Essa introdução toda é para falar sobre o livro “Amor Nos Tempos do Cólera”, de Gabriel Garcia Márquez. Ganhei esse livro no ano passado e posso falar que foi um dos melhores presentes que ganhei em 2014, porque esse livro é uma jóia rara, uma jóia rara sobre o amor.



Apesar de não ter lido muito seus livros, Gabriel Garcia Márquez (ou Gabo) é um dos meus escritores preferidos. Uma das primeiras coisas que me atraem num escritor é sua escrita. A forma como conduz a história e nos envolve nela é essencial para eu definir – na minha opinião, claro – se esse escritor é bom ou ruim. Sabe aquele tipo de linguagem simples, sem muitos alardes e palavras difíceis, mas que narram uma trama de uma forma bem elaborada e inteligente, com um enredo lógico e natural? Pois é, encontramos isso no Gabriel. Aliás, mais de meio século se passa entre o início e o fim da história e, mesmo assim, o livro não é tedioso. Ao contrário, cada página dá um gostinho de querer ler mais e mais.

Para quem não sabe, Gabo morreu ano passado. Foi uma das grandes perdas literárias que tivemos. Para nossa sorte, o legado que ele deixou foi incrível e será eterno. Gabriel Garcia nasceu em 1927, na Colômbia. Dentre os vários prêmios os quais foi coroado, ganhou o Nobel da Literatura em 1982, pelo conjunto de obras escritas. Faleceu aos 87 anos, na Cidade do México, e deixou para a humanidade uma herança de um pouco mais de trinta obras.

“Amor Nos Tempos do Cólera” começou a ser escrito em 1984 e publicado em 1985, ou seja, logo após Gabriel receber o Nobel. Ele estava no auge. Além disso, é um romance muito especial, porque foi inspirado na história dos pais de Gabo, Gabriel e Luiza. O próprio Gabriel, numa entrevista ao jornal New York Times, três anos após a publicação do romance, afirma que "Foi a época em que fui quase completamente feliz. Gostaria que minha vida tivesse sido como naqueles anos em que escrevi 'O amor nos tempos do cólera’”. E completou: “Todas essas coisas para mim são parte da nostalgia. Nostalgia é uma fonte incrível para inspiração literária, para inspiração poética”.






Sinopse: “Ainda muito jovem, o telegrafista, violinista e poeta Gabriel Elígio Garciá se apaixonou por Luiza Márquez, mas o romance enfrentou a oposição do pai da moça, coronel Nicolas, que tentou impedir o casamento enviando a filha ao interior numa viagem de um ano. Para manter seu amor, Gabriel montou, com a ajuda de amigos telegrafistas, uma rede de comunicação que alcançava Luiza onde ela estivesse. Essa é a história real dos pais de Gabriel García Márquez e foi ponto de partida de "O amor nos tempos do cólera", que acompanha a paixão do telegrafista, violinista e poeta Florentino Ariza por Fermina Daza.”






O livro retrata o amor. Um amor que se revela através de cartas e que ganha proporções irremediáveis na vida de dois jovens, Florentino Ariza e Fermina Daza. Um amor interrompido pelo casamento de Fermina com o médico mais conhecido e cobiçado da cidade, Dr. Juvenal Urbino. O amor que se constrói durante um casamento estável e duradouro, mas também o amor de um homem que espera mais de meio século, de forma paciente, o momento de reconquistar e ter a sua amada de volta. Os amores carnais de Florentino com suas centenas de amantes. O amor que o faz crescer na vida, para que a sua amada o veja em boa condição social. O amor que se reconstrói e que encontra guarida em dois amantes septuagenários, indo de encontro a todo o preconceito de uma sociedade que entende que amar é para os jovens. A redescoberta do amor carnal desses dois amantes, corroídos pelo tempo, mas ainda com a capacidade de amar.

Esse é um livro de quebra de preconceitos. Feito para mostrar que estão enganados(as) aqueles(as) que acham que o amor não resiste ao tempo ou ao primeiro “rabo de saia” e também os(as) que acham que na terceira idade não existe amor (e nem o sexo!).

Florentino é aquele amante apaixonado, romântico, que consegue expressar de uma forma até dramática todo o seu sentimento por Fermina Daza através das cartas. Já esta é um contraponto: fria, comedida, que nunca demonstra seus verdadeiros sentimentos e que consegue com certa frieza até interromper seu romance com Ariza. Juvenal Urbino, por outro lado, é um cara objetivo e que corre atrás daquilo que quer, almeja estabilidade e vê em Fermina Daza a esposa perfeita, não por amá-la, mas por ver nela um porto seguro.

Os livros de Márquez também têm como característica refletir os rumos políticos e sociais da época em que narravam, dessa forma, aqui o escritor mostra como pano de fundo uma sociedade colombiana vítima das tantas guerras, preconceitos e avanços “tecnológicos” no período de 1880 a 1930. Também apresenta uma das calamidades que assolou o país no final do século XIX, que foi o cólera. Aliás, numa época onde a sociedade é assolada por essa doença, Florentino Ariza vive seus momentos de maior paixão, cujos sintomas são tão parecidos com a doença, que um médico vai ao seu encontro e afirma “os sintomas do amor são os mesmos do cólera” (p. 82).

Enfim, um livro que espelha a nobreza daquele que o escreveu. Eu saboreei cada página desse livro, por isso, demorei cerca de um mês para lê-lo por completo. Encantei-me com cada personagem, com cada carta escrita, com cada caso de Florentino, com os conselhos de sua mãe (Trânsito Ariza), com a frieza de Fermina Daza, com os sofrimentos de Florentino Ariza, com os seus muitos poemas escritos, com os avanços e tropeços do casamento de Fermina Daza e Juvenal Urbino, com a morte deste, com o amor que espera, que é paciente e que tudo suporta e com o reencontro de dois amantes.

“Pois tinham vivido juntos o suficiente para perceber que o amor era o amor em qualquer tempo e em qualquer parte, mas tanto mais denso ficava quanto mais perto da morte” (p. 428).

“- E até quando acredita o senhor que podemos continuar neste ir e vir do caralho? – Perguntou. Florentino Ariza tinha a resposta preparada havia cinqüenta anos, sete meses e onze dias com as respectivas noites. – Toda a vida – disse.” (p. 431).

Nota: 5/5

Curiosamente, o livro foi para as telas de cinema em 2007, com direção de Mike Newell. Fermina Daza é interpretada pela atriz Giovanna Mezzogiorno, Florentino Ariza, por Javier Bardem e Juvenal Urbino, por Benjamim Bratt. Surpresa agradável foi ver Fernanda Montenegro interpretar a personagem Trânsito Ariza. Assim como todo filme que se baseia no livro, este foi uma adaptação. Foi difícil conseguir o filme, pois ele está esgotado no fornecedor, tive que locá-lo. Mas o filme, assim como o livro, é muito bom.








"Depois de 54 anos, sete meses e onze dias e noites, meu coração finalmente se realizou. E eu descobri, para a minha alegria, que é a vida e não a morte, que não tem limites"

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