08/03/2015

"Sejamos Todos Feministas", de Chimamanda Ngozi Adichie

Sinopse: Sejamos todos feministas - O que significa ser feminista no século XXI? Por que o feminismo é essencial para libertar homens e mulheres? Eis as questões que estão no cerne de Sejamos todos feministas, ensaio da premiada autora de Americanah e Meio sol amarelo."A questão de gênero é importante em qualquer canto do mundo. É importante que comecemos a planejar e sonhar um mundo diferente. Um mundo mais justo. Um mundo de homens mais felizes e mulheres mais felizes, mais autênticos consigo mesmos. E é assim que devemos começar: precisamos criar nossas filhas de uma maneira diferente. Também precisamos criar nossos filhos de uma maneira diferente."Chimamanda Ngozi Adichie ainda se lembra exatamente da primeira vez em que a chamaram de feminista. Foi durante uma discussão com seu amigo de infância Okoloma. Não era um elogio. Percebi pelo tom da voz dele; era como se dissesse: Você apoia o terrorismo!. Apesar do tom de desaprovação de Okoloma, Adichie abraçou o termo e em resposta àqueles que lhe diziam que feministas são infelizes porque nunca se casaram, que são anti-africanas, que odeiam homens e maquiagem começou a se intitular uma feminista feliz e africana que não odeia homens, e que gosta de usar batom e salto alto para si mesma, e não para os homens.Neste ensaio agudo, sagaz e revelador, Adichie parte de sua experiência pessoal de mulher e nigeriana para pensar o que ainda precisa ser feito de modo que as meninas não anulem mais sua personalidade para ser como esperam que sejam, e os meninos se sintam livres para crescer sem ter que se enquadrar nos estereótipos de masculinidade. Sejamos todos feministas é uma adaptação do discurso feito pela autora no TEDx Euston, que conta com mais de 1 milhão de visualizações e foi musicado por Beyoncé.

Nota: 5/5

***

Semana passada li o livro da nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, “Sejamos Todos Feministas”, lançado pela Editora Companhia das Letras e distribuído gratuitamente seu e-book pela Livraria Cultura (pessoal, só procurei no site da Livraria Cultura e logo o encontrei de graça, mas provavelmente, outras livrarias também devem disponibilizar o e-book gratuitamente). Para quem não sabe, a Chimamanda é autora de três outros livros que fazem bastante sucesso, principalmente nos Estados Unidos, onde ela já tem um público seleto, quais sejam: "Meio Sol Amarelo" (2008), "Hibisco Roxo" (2011) e "Americanah" (2014).

Fazia um bom tempo que eu não lia nada sobre o feminismo e suas pautas. Aliás, por mais que faça parte ainda de um grupo de mulheres, tenho militado muito pouco em relação a esse tema. Mas, eu sou da opinião de que, quando se trata de feminismo, a nossa batalha é cotidiana, dentro e fora de casa, em nossas relações pessoais e profissionais, enfim, em tudo.

Logo que eu comecei a estudar mais e me aprofundar no tema do “feminismo”, percebi que nele há várias correntes, que vão desde as radicais às mais moderadas, que, na minha humilde opinião, tem muito mais a ver com a forma do que com o conteúdo. Porque o conteúdo é um só: o mundo é machista e precisamos combater esse machismo. Não queremos que as mulheres dominem os homens, mas que elas dominem o mundo junto com os homens, que tenham uma relação equitativa e saudável. No entanto, por falta de conhecimento, homens e mulheres (sim, infelizmente também as mulheres!) nos estereotipam como “aquelas-que-não-gostam-de-homens-e-se-vestem-como-eles”, ou seja, uma imagem totalmente negativa que tenta, acima de tudo, deslegitimar o movimento. Quando, na realidade, o feminismo nada tem a ver com isso...

Bom, descobri o livro da Chimamanda pelo canal no YouTube daTatiana Feltrin. O livro é bem curtinho (demorei quase uma hora para lê-lo por completo) e ele é, na realidade, uma palestra que a escritora proferiu em dezembro de 2012 no TEXsEuston (conferência anual que tem por foco a África). O tema do seu discurso foi o feminismo, porque esse também é um grande problema que assola e mata no continente africano, assim como em todo o resto do mundo.

Decidi falar sobre o feminismo porque é uma questão que me toca especialmente. Suspeitei que não seria um assunto muito popular, mas pensei que poderia começar um diálogo necessário. (...) No fim, a aclamação da plateia, com todos de pé, me deu esperanças.

Na minha opinião, Chimamanda foi muito feliz no tema e em toda a sua fala. Não foi à toa que ela saiu aplaudida de pé por toda a plateia. Com uma simplicidade ímpar, a escritora conseguiu demonstrar que o feminismo não tem nada a ver com aquele teor negativista que nos estereotipam e que ser feminista é ser uma pessoa feliz com a vida, com as pessoas e consigo mesmo. Aliás, feministas também podem usar batom, salto alto, vestir-se bem e ter bom relacionamento com os homens!

Decidi me tornar uma "feminista feliz e africana que não odeia homens, e que gosta de usar batom e salto alto para si mesma, e não para os homens”.

O que se busca não é a dominação do mundo, mas a divisão de tarefas na sociedade e dentro de casa, é a igualdade no mundo do trabalho e nas relações interpessoais .

Adichie nos mostrou a realidade da Nigéria, de como as mulheres são praticamente invisíveis. Tratou também sobre a opinião de seu amigo, que relatou a ela que não entendia “que as coisas são diferentes e mais difíceis para as mulheres. Talvez fosse verdade no passado, mas não é mais. Hoje as mulheres têm tudo o que querem”. Isso me lembrou duas coisas. A primeira, quando participava de grupos de assessoria jurídica universitária popular e estudávamos Paulo Freire, e percebi que só quem podem entender, sentir e lutar pelo preconceito são aqueles e aquelas que sofrem dele diretamente. Dessa forma, percebi que não podemos ajudar o oprimido(a), mas só, e tão somente, ele(a) mesmo(a) pode se ajudar. A segunda, é que há umas semanas atrás, assistindo ao programa “Direito e Literatura”, apresentado por Lenio Streck, que passa todo domingo, na TV Justiça (aliás, recomendo demais esse programa, maravilhoso!), vi que um dos temas era sobre o patriarcalismo e um dos convidados dizia que "sem a modernização capitalista não teria havido a derrocada do patriarcalismo". Peraí, como assim?? Mas, sua argumentação baseava-se no fato de que, com o capitalismo, as mulheres puderam trabalhar. Claro, era um homem falando. E a gente até entende que ele fale assim, porque não é ele que sofre diretamente com todo o preconceito de ser mulher e com a sociedade patriarcal.

O machismo não é normal e nós, mulheres, não devemos considerar que ele seja assim tratado em nossa sociedade. Homens e mulheres são apenas fisicamente diferentes, mas todos têm igual capacidade. Aliás, após a eleição presidencial de Dilma Rousseff, ficou o jargão de que toda mulher pode ser o que ela quiser, o que é a mais plena verdade.

Então, de uma forma literal, os homens governam o mundo. Isso fazia sentido há mil anos. Os seres humanos viviam num mundo onde a força física era o atributo mais importante para a sobrevivência; quanto mais forte a pessoa, mais chances ela tinha de liderar. E os homens, de uma maneira geral, são fisicamente mais fortes. Hoje, vivemos num mundo completamente diferente. A pessoa mais qualificada para liderar não é a pessoa fisicamente mais forte. É a mais inteligente, a mais culta, a mais criativa, a mais inovadora. E não existem hormônios para esses atributos.

Enfim, apesar de simples, como dito anteriormente, adorei o livro da nigeriana Chimamanda. Aliás, para quem nunca leu nenhuma literatura feminista e se interessa pelo tema, eis uma sugestão como pontapé inicial. Cá entre nós, alguns livros “feministas” são tão chatos, que até desanima a nossa leitura... Mas esse aqui, tenho certeza que ninguém irá se arrepender.

Ainda sim, um fato que me chamou atenção foi o título do livro "Sejamos TODOS Feministas". Peraí, foi um erro de tradução ou foi intencional esse título? Daqui, ficamos com a expectativa de que ele tenha sido intencional. ;-)

Por fim, a nossa sociedade e nossa cultura estão em plena transformação. Como disse Chimamanda: “A cultura não faz as pessoas. As pessoas fazem a cultura”. Aliás, vivemos sempre em transformação, mas acho que os ventos desse início de século XXI trouxeram uma mudança de paradigma muito importante para a sociedade brasileira, principalmente após a eleição de Lula, em 2002. Sou da opinião que setores, antes marginalizados porque sofriam com a forte intolerância da nossa sociedade, hoje têm mais espaço para se manifestarem e lutarem por seus direitos. A sociedade aos poucos vai deixando sua intolerância de lado, mas, claro, esse processo é lento e gradual. E o mesmo deve acontecer (e tem acontecido!) com os direitos das mulheres.

Um 08 de março de muita luta, muita reflexão e muita transformação para todas nós!

Falar é fácil, eu sei, mas as mulheres só precisam aprender a dizer NÃO a tudo isso.
O problema da questão de gênero é que ela prescreve como devemos ser em vez de reconhecer como somos. Seríamos bem mais felizes, mais livres para sermos quem realmente somos, se não tivéssemos o peso das expectativas do gênero.
Beijos e boa leitura!


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