Sinopse: Sejamos todos feministas - O que significa ser feminista no
século XXI? Por que o feminismo é essencial para libertar homens e mulheres?
Eis as questões que estão no cerne de Sejamos todos feministas, ensaio da
premiada autora de Americanah e Meio sol amarelo."A questão de gênero é
importante em qualquer canto do mundo. É importante que comecemos a planejar e
sonhar um mundo diferente. Um mundo mais justo. Um mundo de homens mais felizes
e mulheres mais felizes, mais autênticos consigo mesmos. E é assim que devemos
começar: precisamos criar nossas filhas de uma maneira diferente. Também
precisamos criar nossos filhos de uma maneira diferente."Chimamanda Ngozi
Adichie ainda se lembra exatamente da primeira vez em que a chamaram de
feminista. Foi durante uma discussão com seu amigo de infância Okoloma. Não era
um elogio. Percebi pelo tom da voz dele; era como se dissesse: Você apoia o
terrorismo!. Apesar do tom de desaprovação de Okoloma, Adichie abraçou o termo
e em resposta àqueles que lhe diziam que feministas são infelizes porque nunca
se casaram, que são anti-africanas, que odeiam homens e maquiagem começou a se
intitular uma feminista feliz e africana que não odeia homens, e que gosta de
usar batom e salto alto para si mesma, e não para os homens.Neste ensaio agudo,
sagaz e revelador, Adichie parte de sua experiência pessoal de mulher e
nigeriana para pensar o que ainda precisa ser feito de modo que as meninas não
anulem mais sua personalidade para ser como esperam que sejam, e os meninos se
sintam livres para crescer sem ter que se enquadrar nos estereótipos de
masculinidade. Sejamos todos feministas é uma adaptação do discurso feito pela
autora no TEDx Euston, que conta com mais de 1 milhão de visualizações e foi
musicado por Beyoncé.
Nota: 5/5
***
Semana passada li o livro da nigeriana Chimamanda Ngozi
Adichie, “Sejamos Todos Feministas”, lançado pela Editora Companhia das Letras
e distribuído gratuitamente seu e-book pela Livraria Cultura (pessoal, só
procurei no site da Livraria Cultura e logo o encontrei de graça, mas
provavelmente, outras livrarias também devem disponibilizar o e-book gratuitamente). Para quem não sabe, a Chimamanda é autora de três outros livros que fazem bastante sucesso, principalmente nos Estados Unidos, onde ela já tem um público seleto, quais sejam: "Meio Sol Amarelo" (2008), "Hibisco Roxo" (2011) e "Americanah" (2014).
Fazia um bom tempo que eu não lia nada sobre o feminismo e suas pautas. Aliás,
por mais que faça parte ainda de um grupo de mulheres, tenho militado muito
pouco em relação a esse tema. Mas, eu sou da opinião de que, quando se trata de
feminismo, a nossa batalha é cotidiana, dentro e fora de casa, em nossas
relações pessoais e profissionais, enfim, em tudo.
Logo que eu comecei a estudar mais e me aprofundar no tema
do “feminismo”, percebi que nele há várias correntes, que vão desde as radicais
às mais moderadas, que, na minha humilde opinião, tem muito mais a ver com a
forma do que com o conteúdo. Porque o conteúdo é um só: o mundo é machista e
precisamos combater esse machismo. Não queremos que as mulheres dominem os homens, mas que elas dominem o mundo junto com os homens, que tenham uma relação equitativa e saudável. No entanto, por falta de conhecimento,
homens e mulheres (sim, infelizmente também as mulheres!) nos estereotipam
como “aquelas-que-não-gostam-de-homens-e-se-vestem-como-eles”, ou seja, uma imagem totalmente negativa que tenta, acima de tudo, deslegitimar o movimento. Quando, na realidade, o feminismo
nada tem a ver com isso...
Bom, descobri o livro da Chimamanda pelo canal no YouTube daTatiana Feltrin. O livro é bem curtinho (demorei quase uma hora para lê-lo por
completo) e ele é, na realidade, uma palestra que a escritora proferiu em
dezembro de 2012 no TEXsEuston (conferência anual que tem por foco a África). O tema do
seu discurso foi o feminismo, porque esse também é um grande problema que
assola e mata no continente africano, assim como em todo o resto do mundo.
Decidi falar sobre o feminismo porque é uma questão que me toca especialmente. Suspeitei que não seria um assunto muito popular, mas pensei que poderia começar um diálogo necessário. (...) No fim, a aclamação da plateia, com todos de pé, me deu esperanças.
Na minha opinião, Chimamanda foi muito feliz no tema e em
toda a sua fala. Não foi à toa que ela saiu aplaudida de pé por toda a plateia.
Com uma simplicidade ímpar, a escritora conseguiu demonstrar que o feminismo
não tem nada a ver com aquele teor negativista que nos estereotipam e que ser feminista é ser uma pessoa feliz com a vida, com as
pessoas e consigo mesmo. Aliás, feministas também podem usar batom, salto alto,
vestir-se bem e ter bom relacionamento com os homens!
Decidi me tornar uma "feminista feliz e africana que não odeia homens, e que gosta de usar batom e salto alto para si mesma, e não para os homens”.
O que se busca não é a dominação do mundo, mas a divisão de
tarefas na sociedade e dentro de casa, é a igualdade no mundo do trabalho e nas relações interpessoais .
Adichie nos mostrou a realidade da
Nigéria, de como as mulheres são praticamente invisíveis. Tratou também sobre a
opinião de seu amigo, que relatou a ela que não entendia “que as coisas são
diferentes e mais difíceis para as mulheres. Talvez fosse verdade no passado,
mas não é mais. Hoje as mulheres têm tudo o que querem”. Isso me lembrou duas
coisas. A primeira, quando participava de grupos de assessoria jurídica
universitária popular e estudávamos Paulo Freire, e percebi que só quem podem
entender, sentir e lutar pelo preconceito são aqueles e aquelas que sofrem dele
diretamente. Dessa forma, percebi que não podemos ajudar o oprimido(a), mas só, e tão somente, ele(a) mesmo(a) pode se ajudar. A segunda, é que há umas semanas atrás,
assistindo ao programa “Direito e Literatura”, apresentado por Lenio Streck,
que passa todo domingo, na TV Justiça (aliás, recomendo demais esse
programa, maravilhoso!), vi que um dos temas era sobre o patriarcalismo e um dos
convidados dizia que "sem a modernização capitalista não teria havido a derrocada do patriarcalismo". Peraí, como assim?? Mas, sua argumentação baseava-se no fato de que, com
o capitalismo, as mulheres puderam trabalhar. Claro,
era um homem falando. E a gente até entende que ele fale assim, porque não é
ele que sofre diretamente com todo o preconceito de ser mulher e com a sociedade patriarcal.
O machismo não é normal e nós, mulheres, não devemos
considerar que ele seja assim tratado em nossa sociedade. Homens e mulheres são apenas fisicamente
diferentes, mas todos têm igual capacidade. Aliás, após a eleição presidencial
de Dilma Rousseff, ficou o jargão de que toda mulher pode ser o que ela quiser,
o que é a mais plena verdade.
Então, de uma forma literal, os homens governam o mundo. Isso fazia sentido há mil anos. Os seres humanos viviam num mundo onde a força física era o atributo mais importante para a sobrevivência; quanto mais forte a pessoa, mais chances ela tinha de liderar. E os homens, de uma maneira geral, são fisicamente mais fortes. Hoje, vivemos num mundo completamente diferente. A pessoa mais qualificada para liderar não é a pessoa fisicamente mais forte. É a mais inteligente, a mais culta, a mais criativa, a mais inovadora. E não existem hormônios para esses atributos.
Enfim, apesar de simples, como dito anteriormente, adorei o
livro da nigeriana Chimamanda. Aliás, para quem nunca leu nenhuma literatura
feminista e se interessa pelo tema, eis uma sugestão como pontapé inicial. Cá
entre nós, alguns livros “feministas” são tão chatos, que até desanima a nossa
leitura... Mas esse aqui, tenho certeza que ninguém irá se arrepender.
Ainda sim, um fato que me chamou atenção foi o título do livro "Sejamos TODOS Feministas". Peraí, foi um erro de tradução ou foi intencional esse título? Daqui, ficamos com a expectativa de que ele tenha sido intencional. ;-)
Por fim, a nossa sociedade e nossa cultura estão em plena
transformação. Como disse Chimamanda: “A cultura não faz as pessoas. As pessoas
fazem a cultura”. Aliás, vivemos sempre em transformação, mas acho que os
ventos desse início de século XXI trouxeram uma mudança de paradigma muito
importante para a sociedade brasileira, principalmente após a eleição de Lula,
em 2002. Sou da opinião que setores, antes marginalizados porque sofriam com a
forte intolerância da nossa sociedade, hoje têm mais espaço para se
manifestarem e lutarem por seus direitos. A sociedade aos poucos vai deixando
sua intolerância de lado, mas, claro, esse processo é lento e gradual. E o
mesmo deve acontecer (e tem acontecido!) com os direitos das mulheres.
Um 08 de março de muita luta, muita reflexão e muita
transformação para todas nós!
Falar é fácil, eu sei, mas as mulheres só precisam aprender a dizer NÃO a tudo isso.
O problema da questão de gênero é que ela prescreve como devemos ser em vez de reconhecer como somos. Seríamos bem mais felizes, mais livres para sermos quem realmente somos, se não tivéssemos o peso das expectativas do gênero.Beijos e boa leitura!
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