Um fazendeiro compra um belo cavalo para seu filho. O vizinho, vendo a sorte do garoto em possuir um cavalo tão especial com tão pouca idade, resolve comentar com o fazendeiro sobre o futuro do garoto:
- Vejo que seu filho é um rapaz de sorte na vida, todos o invejam pelo belo cavalo que possui.
O pai do garoto, sabedor do perigo das expectativas e dos desejos na vida, comenta:
- Não sei. Pode ser sorte ou azar.
O vizinho, inconformado com o comentário do fazendeiro, completa:
- Como azar, não existe cavalo mais valioso em toda a redondeza.
Passado alguns meses, apesar do zelo do rapaz para com o cavalo, o animal foge sem deixar rastro. E o vizinho volta a opinar sobre o destino do rapaz.
- É, vejo que seu filho não teve sorte. Perder um cavalo tão caro é muito azar.
O pai do garoto mantém a mesma prudência em relação à vida e comenta:
- Sei não, pode ser sorte ou azar.
O vizinho, sem entender novamente o pensamento do fazendeiro, interpreta que o pai não queria aceitar o azar de seu filho.
Passados alguns dias, um assalto acontece em todas as fazendas da região e são levados os cavalos de todos os fazendeiros. Na busca pelos assaltantes, os fazendeiros da região acabam encontrando somente o cavalo desaparecido do rapaz.
O vizinho volta a conversar com o fazendeiro sobre os últimos acontecimentos:
- Como pode seu filho ter tanta sorte. Após o assalto nós ficamos sem um cavalo e seu filho, que estava certo de não encontrar mais seu cavalo, foi o único a reaver seu animal. Que rapaz de sorte!
Mais uma vez, o pai do rapaz emite sua opinião:
- Sei não, pode ser sorte ou azar.
Após uns meses, o rapaz quebra a bacia ao pular uma cerca com o cavalo e cair no chão. O vizinho, sem conseguir se conter, volta a conversar:
- Coitado do seu filho, foi muito azar o acidente com o cavalo.
Mais uma vez, o fazendeiro expressa a mesma consideração:
- Sei não, pode ser sorte ou azar.
Desta vez, o vizinho se indigna:
- Como pode você achar que seu filho quebrar a bacia pode ter sido uma sorte. Que tipo de pai você é?
Passados alguns meses, enquanto o rapaz ainda estava se recuperando, o exército convoca todos os rapazes para a guerra. O filho do vizinho acaba morrendo na guerra e o filho do fazendeiro ainda está vivo; graças ao tombo de cavalo, não foi convocado para a guerra.
Moral da história: o que é sorte ou azar? São apenas nossas expectativas que geram esses conceitos, que nos fazem sofrer. E o mais interessante é que poderíamos pensar: se tudo sempre der certo, serei uma pessoa de sorte. Contudo, infelizmente, na vida, nunca dará certo, e, caso ocorra algo que consideremos positivo, estaremos nos preparando para o sofrimento futuro, pois o apego irá reger nossas expectativas. Mesmo a interpretação de uma situação como sorte nos leva a sofrer mais à frente.
(Retirado do livro "Em Busca Da Cura")